Artigo: Hoje vi a Esperança
Hoje vi a esperança… O estranho dom saído a milhares de anos da mítica Caixa de Pandora continua, ainda hoje, sendo fundamental para os homens. E é provável que a vejamos, elevando os olhos até ela, cada vez que o desconcerto e a angústia nos aprisionem.
Dizem as velhas tradições dos antigos povos helênicos que, a muito tempo, quando os homens haviam desperdiçado suas oportunidades de crescimento e de redenção, os deuses os castigaram enviando à terra uma mulher-robô de extraordinária beleza. Cheia de perfídia, esta mulher (Pandora) foi facilmente aceita pelos homens e também pelos heróis, confiança esta que aproveitou para abrir a caixa de seu tesouro oculto, que sempre a acompanhava, deixando cair todos os males conhecidos sobre este mundo… Porém, no fundo da Caixa, restou a esperança. No fundo de todos os homens vive um resto de esperança quando todos os caminhos parecem fechados, quando todas as ilusões foram afastadas, quando nenhuma luz pode ser vislumbrada do horizonte.
Por isso, hoje via esperança, e sua visão me ajudou a compreender quantas e quantas coisas perderam os seres humanos para que esta imagem tem aqui apresentar-se perante nós.
Certamente, muitas coisas se tem perdido; muitos valores se tem quebrado neste estranho momento de transição histórica que vem encerrar nosso século XX. Na verdade, falta luz, falta a claridade de conceitos; a mente e os sentimentos estão como embotados ante o cumprimento de suas funções naturais. Tudo parece submergir-se em uma perigosa inércia, cuja força de arraste se traduz em destruição e violência de todas as ordens. Então, quando aparentemente nada resta no fundo da caixa da vida, que a esperança se deixa ver.
Esperança é esperar… É ter essa dose de paciência e de fé que nos permite superar o mau momento presente para lançar as energias até um futuro melhor. Mas cuidado… Esperança não pode ser esperada continuamente.
Este misterioso Dom dos Deuses é tão frágil e sutil como as sombras mágicas que se desenham nos entardeceres. Tem-se que saber captar a imagem com rapidez antes que ela se dissolva entre as sombras maiores da noite. Deve-se saber atuar com prontidão uma vez que o compasso de espera nos tem permitido recuperar o alento.
A esperança não é um dom para os homens inativos; nem sequer o é para aqueles que se tem deixado cair definitivamente ante as dificuldades.
A esperança é uma promessa, mas deve-se lutar denodadamente para plasmar essa promessa… Ela promete, nós realizamos.
A visão da esperança me tem enchido de gozo não podemos (não devemos) renunciar ao esforço constante que requer a existência. Não é nobre afrouxar o impulso quando as dificuldades são maiores. Precisamente quando tudo parece impossível e perdido, é quando a Esperança se leva desde o fundo de sua caixa mágica, e promete outros tempos para aqueles que sabem vê-la.
Queres tu também ver a Esperança? Aproxima-te do meu grande olho, ao olho que coroa estas páginas e também a verás por trás do véu no momento atual que hoje nublado nosso entendimento. E verás envolta em véus de ilusão, tênue como sonhos, mas tão real como o entusiasmo que, estou certa, vive no fundo de teu coração.
Délia Gusmán, diretora Internacional da Nova Acrópole
Imagem: Swedish soprano Christine Nilsson as Pandora by Alexandre Cabanel, 1873